segunda-feira, 19 de julho de 2010

Livre Arbítrio

Free Will. Não há nada como o livre arbítrio na nossa religião de estimação. Muito ateu não acredita nesta parvoíce, como é óbvio, mas não existe aqui uma correlação perfeita. Há gente com muito boas intenções, empíricos de fio a pavio, mas quando se chega sempre à Grande Questão, ficam com dúvidas. Tudo é material, mesmo nós próprios e tal, e o cérebro é feito de papinha creme enrolada. Mas a Consciência, meus amigos, a Consciência, essa não pode ser apenas luzinhas eléctricas a andar de um lado para o outro, sem qualquer tipo de Livre Arbítrio.

É compreensível a apreensão. Quem gosta de saber que todas as suas acções são apenas o fruto de interacções reduzíveis a um jogo de bilhar de fermiões e bosões? Que tudo o que faz é inevitável? Que qualquer decisão que tomemos nunca é uma tomada realmente livre, porque a própria decisão foi fruto desse processo que não controlamos?

Alguns crentes com um certo sadismo xico-esperto, mas no bom sentido, apontam para o desconforto de Richard Dawkins sempre que o confrontam com essa questão. Dawkins pede às pessoas para se abrirem à evidência clara que o amigo imaginário não existe, mas quando lhe pedem para assumir que o livre arbítrio não existe, ele nega, finge que existe uma resposta qualquer, assume que a questão é "filosoficamente muito difícil", e não se quer preocupar com isso. A inconsistência é, no mínimo, engraçada. Já outros ateus não têm grandes problemas com isto, assumem a coisa como um facto bruto e continuam a sua vida normalmente.

A questão é, no entanto, inescapável. Acho que é um pouco excessivo exigir a toda a gente que pense nestas "consequências" filosóficas, e por isso acho que a insistência para que Dawkins o faça foi um pouco exagerada.

Mas façamo-lo agora. Pensemos um pouco sobre o assunto. A coisa é estranha, não é? Somos "prisioneiros" de átomos que nos compõem. Muito deprimente. É nesta altura que o crente, com um sorriso irónico de orelha para orelha olha para o coitado do ateu, obrigado a adoptar uma visão fatalista... duas vezes*. Claro que o crente, embebido da sua liberdade total, divina, especial, fica bastante agradado na sua posição, claramente superior.

Mas..... será mesmo assim tão superior? Pensemos um pouco sobre isto. O que quer dizer ter "Livre Arbítrio"? A liberdade de escolher, fazer as nossas próprias escolhas, significa que o nosso "Ser", se for possível esta abstracção, é independente do que o rodeia e consegue, perante um momento de decisão, fazer uma escolha "Livre".

Agora que expus a coisa deste modo, a coisa parece completamente ridícula. Por várias razões. Primeiro, que este "Ser", independentemente do modo como é "construído", espiritualmente ou "materialmente", é claramente complexo. Tem contradições, conflitos internos, falhas, memórias, etc., etc. Ele é, claramente, composto de todas estas coisas. Portanto, a questão materialista não resolve, bem vistas as coisas, o problema. O "Ser" que somos é sempre composto de qualquer coisa, e dizer que somos "prisioneiros" do que nos compõe, não é então uma notícia ultra-deprimente e desesperada, mas apenas um truísmo inalterável. Ou seja, é simplesmente chegar à conclusão de que não somos livres de não ser o que somos. Ser livre do que nos compõe é sempre uma inconsistência lógica.

Segundo, mesmo que isso fosse possível (ser livre do que nos compõe), nunca seríamos livres do que nos rodeia. Vejamos, nós, tudo o que fazemos é sempre em reacção ao que vivemos. Aquilo que sabemos depende necessariamente do que nos rodeia. Todas as nossas acções, os nossos pensamentos, são moldados por aquilo que nos rodeia. Este é um "fatalismo" exterior. Portanto, mesmo que fosse possível um estado de coisas impossível (ser livre do que nos compõe), estaríamos sempre condenados às escolhas que o exterior nos impõe.

Penso que o crente imagina qualquer coisa parecida com o último parágrafo. Uma espécie de "Matrix", um mundo altamente "controlado", mas que nos deixa fazer, subrepticiamente, uma série de (poucas) escolhas seguidas. E se as fizermos bem, seremos felizes, entramos no céu. É uma visão paranóica, mas compreende-se a motivação inerente.

Existem ainda outras questões a resolver. Primeiro, que tipo de filosofia é possível numa visão fatalista do universo, se a própria palavra "fatalismo" se aplica, e que outros paradoxos há a descobrir. Parece-me que todos estes problemas têm mais a ver com uma maneira errada de os pensar e considerar do que com algum problema com a "realidade" em si.

Mas isso fica para outro dia.



*Piada seca de lógica. O ateu fica por um lado logicamente obrigado a aceitar a conclusão, por outro fica obrigado porque o jogo de bilhar ininterrupto do universo assim o determinou.

3 comentários:

  1. BOLAS Jonas tens livre arbítrio?
    não me parece...
    Teh sailors aks tehyr inbisuble mans who started it. srsly. And theyr inbisible mans pwnz Jonah. Then tehy makez a gang and cmmence to pokin' Jonah, cuz it hiz fault.8 They akses him, " Y U R starting tihs? Hu maked winds? is not sew grate akshully. Is yu in teh seawrker union? Where iz yr cheezburger? Who are yr forevar fambly?"9 Jonah sez, "Oh hai. Is okay. sry I skare yu. I haz harbl, and Ceiling Cat wat cerated heav'n n urfs n stuff and not eated it, is mai homeboi."10 Tehn, tehy start cryn and houlin, cuz Jonah already teld them hiz camoflage iz not werkin. Tehn they sez, "orly? Ceiling Cat is knows all and seez all. U broked it. srsly."

    11 Teh storm kept waving. Iz microwave, then mexican wave.12 Jonah sez "Rsistnce iz fewtile. Biff me in teh sea, ocean can pwnzd kittah. Is mai fault. sry."13 But Michael triez to row teh boat to shore. He is phail, and teh storm iz getting worsnwors.14 So tehy preyed to Ceiling Cat, "wait. no! plz don't drowns uz, cuz cats dusn't lieks to get wet. DO NOT WANT. plsthnxbai."15 Tehn they toss Jonah into teh waterz, and teh sea iz calmed down liek on ritlin. srsly.16 Teh sailors iz so skeered they makes offrings of catnips and cheezeburgers and loots in bukkits for Ceiling Cat.17 Ceiling Cat maeked a LOLrus to eated Jonah, and Jonah iz in yr fishie making yr sushis for three days and three nights.
    fica para outro dia, obviamente
    não consegues produzir mais num dia...
    de resto isto e os restantes posts devem ter levado os 4 anos que andas a krippahlar...

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  2. Hehe, não a falta de qualidade na escrita deve-se ao meu cansaço. Estou a trabalhar 16 horas por dia e durmo pouco, estamos a acabar um projecto que é praticamente o projecto mais importante do atelier desde há 3 ou 4 anos.

    Btw, reconheci a referência à Bíblia LOLcat. O meu personagem favorito é o ceiling cat.

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  3. Quem gosta de saber que todas as suas acções são apenas o fruto de interacções reduzíveis a um jogo de bilhar de fermiões e bosões...The bosonic string theorie de 68 ficou sem bosões,
    logo talvez o arbítrio esteja livre deles, quem sabe?

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