segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Aterações Climáticas #2: outra vez o SS

Parece perseguição mas não é. É só um pequeno apontamento. No Skeptical Science (céptico no sentido de ser "céptico do cepticismo", nas suas próprias palavras), um novo post sobre as evidências das alterações climáticas provocadas pelo homem, contém pelo menos dois erros (pela qualidade do blog, diria que deverá conter centenas, mas contento-me a listar dois).

O primeiro é um ponto mais geral, no qual não é só o site que erra, mas muita blogosfera por aí, incluíndo muita gente "céptica", que é a binarização da questão. Levando a questão ao nível de seriedade desta gente, seríamos obrigados a aceitar que a questão abrangente sobre as políticas ambientais se resumem a uma questão binária, ou há aquecimento global antropogénico ou não. Se há, devemos adoptar toda a agenda ambientalista (e seremos "negacionistas" se o não fizermos), se chegarmos à conclusão que não há é porque somos fundamentalmente parvos criacionistas, etc.

Isto é um empobrecimento e uma chantagem intelectual inaceitável. Existem imensas cadeias de raciocínio nas quais posso estar perfeitamente de acordo nalgum ou noutro ponto, mas não em todos. Por exemplo, concordar com a evidência geral de que alteramos o clima não implica necessariamente concordar com a análise mais alarmista da mesma. Concordar com a existência de possibilidades alarmantes pode resultar numa ideia precaucionária, ou por outro lado na conclusão de que sabemos demasiado pouco. Concordar com uma ideia precaucionária pode ou não resultar em diferentes ideias políticas, diferentes estratégias económicas ou até de recursos naturais. Esta diversidade na planície de possibilidades intelectuais é uma coisa que o movimento ambientalista despreza, porque considera que é um desperdício de tempo, ou até uma estratégia deliberada para adiar medidas que tanto promovem.

Neste sentido, o "cepticismo" climático acontece em vários terrenos bem diferentes, enquanto que sites como este promovem a ideia de que o que está em causa é a ciência básica, a questão binária de se estamos ou não a "alterar o clima", como se a resposta a esta questão fosse a última relevante. Não é.

O segundo é mais estúpido e mesquinho da minha parte. Não é propriamente um erro. Mas gostei de reparar que das dez "evidências" das alterações climáticas, 4 são evidências sobre o aumento de CO2 na atmosfera, 2 sobre o efeito básico de estufa do CO2 e apenas os outros 4 são sobre consequências indirectas do CO2 na atmosfera. Todos estes pontos são mostrados apenas binariamente (positivo/negativo). E depois não há sequer referência a evidências empíricas que contrariam a tese. É assim que se distingue um panfleto propagandístico de um artigo "céptico"...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Alterações Climáticas #1

Booom. Aqui começa a grande tirada, a grande demanda contra uma ideia que é, para todos os efeitos, considerada por muitos como a grande questão do "século". Para mim, esta ideia é completamente ridícula e cronocêntrica, com uma falta de imaginação que me irrita de sobremaneira.


Mas comecemos devagar. Existe toda uma blogosfera aos gritos, com sites mais técnicos e outros mais propagandistas. Uns mais oficiais e outros mais em ritmo de hobby. Entre os propagandistas, incluo um que tem um nome Orwelliano: Skeptical Science. Digo Orwelliano, não porque considere que um site que advogue o problema do AG não possa ser "céptico", mas porque é um nome que não representa de modo nenhum o site.

É um site que procura dar "respostas" aos "argumentos comuns" dos cépticos. Uma espécie de formulário de respostas pré-preparadas para todos os leitores que se encontrem com esses heréticos ignorantes que estão a impedir grandes mudanças políticas que são os negacionistas das alterações climáticas.

O problema destas respostas é que são tudo menos "cépticas". São propaganda pura e dura. Não há ali nenhum pensamento que não seja o de dar a certeza ao leitor de que não há debate na ciência, que tudo é claro, e que só não nos mexemos porque somos estúpidos, etc.

Em resumo, é um perfeito exemplo do pior que a blogosfera tem para oferecer.

Vejamos um exemplo. Num post recente, falam de modelos e de como se sabe que são bons a prever o futuro:

Climate models have to be tested to find out if they work. We can’t wait for 30 years to see if a model is any good or not; models are tested against the past, against what we know happened. If a model can correctly predict trends from a starting point somewhere in the past, we could expect it to predict with reasonable certainty what might happen in the future.

So all models are first tested in a process called Hindcasting. The models used to predict future global warming can accurately map past climate changes. If they get the past right, there is no reason to think their predictions would be wrong. Testing models against the existing instrumental record suggested CO2 must cause global warming, because the models could not simulate what had already happened unless the extra CO2 was added to the model. Nothing else could account for the rise in temperatures over the last century.


Alguém vê a falácia enorme no raciocínio? "If they get the past right, there is no reason to think their predictions would be wrong" é uma parvoíce tremenda que se diz. Não é preciso ter um doutoramento em modelação probabilística para saber que esta frase é ou desonesta intelectualmente, ou um atestado de ignorância ao autor.

Vamos lá a ver se nos entendemos. Primeiro, "prever o passado" não é façanha extraordinária. Um modelo que preveja determinados fenómenos que os modeladores já têm conhecimento prévio é apenas um atestado de não imbecilidade dos modeladores em não fazer um modelo que nem sequer consiga alinhar-se com a história climática da Terra. Não deixa de ser completamente ad hoc, com o problema adicional de que dá tanto ao modelador como ao leitor a impressão errada de uma certeza maior sobre as capacidades do modelo do que seria salutar.

E isto não é novidade nenhuma, quer dizer, qualquer teoria científica que "explique" observações históricas é melhor do que uma que não as explique, mas esta não é razão suficiente para a adoptar. Aquilo que um modelo tem de fazer é prever novas observações que sejam suficientemente extraordinárias para termos a certeza de que esta teoria é realmente boa.

Isto quer dizer que não chega, como o post diz, prever que o ártico aqueceu bastante, que o aquecimento se dá sobretudo à noite, etc.. É preciso sublinhar todas as previsões dos modelos, e fazer uma lista do que acertou e também do que falhou. Isto porque qualquer modelo naif terá sempre previsões certas e outras erradas. E o que é facto é que os modelos falharam em imensas previsões, sendo as que acertaram bastante triviais.

Por exemplo, prever que o planeta "aquece" é trivial. Não é grande façanha, já que existem apenas duas hipóteses para o planeta Terra: ou aquece, ou arrefece. Uma previsão que seria possível acertar apenas atirando uma moeda para o ar em 50% das hipóteses é "algo", mas não é "extraordinário". Isto num ramo científico mais rigoroso, como a Física, seria ridicularizável.

Especialmente, se quisermos deles retirar conclusões do que se vai passar daqui a cem anos.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

férias

bom dia. Para avisar que o blog (ainda) não morreu. Está apenas de férias, já que o autor não está. Está pelo contrário a preparar grandes mudanças na sua vida.