E por isto mesmo sempre entendi o ambientalismo como sendo uma ideologia com as suas negatividades, mas que seriam sempre vistas nesta luz de contradições. Aliar o humanismo ao ambientalismo parecia-me uma imagem inevitável, bonita e pacífica, e acho que muita gente há de concordar com isto. No entanto, é preciso aqui compreendermos que o Humanismo é uma ideologia totalmente inversa ao Ambientalismo, e os seus confrontos são muito mais profundos e irreconciliáveis do que aparentam à primeira vista.
O Humanismo nasce no seio de uma cultura judaico-cristã, que venera o indivíduo e a sua alma, a liberdade humana, a responsabilidade pessoal, que gera por sua vez todo um sistema capitalista que funciona melhor se cada átomo da sua estrutura, cada indivíduo, seja dotado daquilo a que hoje chamamos de "Direitos Humanos". Esta ideia, a de que cada ser humano tem "Direitos" só por existir é algo estupendo e anti-natural. Já Adolfo Hitler desprezava este conceito ridículo de haver "Direitos" de pessoas que nunca fizeram algo para os merecer, e considerava tanto o liberalismo económico como o comunismo "doenças" anti-naturais.
Esta questão do "Anti-Naturalismo" do projecto iluminista, do projecto humanista, e do capitalista, que partilham imensos pontos comuns, faz parte de imensas críticas dos séculos anteriores, incluíndo o próprio Marx, que via nesta revolução de métodos de produção o perigo de sobreprodução e colapso do sistema, e que imaginava um retorno a um "paraíso" original, a economia de uma aldeia, etc.
O projecto de Hitler, por outro lado, era um projecto de recriar o Reich romano em um milhar de anos. Claramente, a ideia nazi não era a de um projecto de exponenciação de possibilidades tecnológicas e materiais, mas sim a da estabilidade e sustentabilidade. Em boa verdade, o partido nazi era um partido altamente ecológico, proibindo a caça, entre muitas outras medidas extraordinariamente originais e ainda hoje seriam consideradas vanguardistas. Isto porque via o ser humano não como uma "alma" especial com "direitos" a priori, mas sim como um ser dentro de um ecossistema darwiniano, que dominava devido ao seu poder e força, mas que lhe deveria respeito e veneração.
O projecto capitalista liberal era um que, no entanto, era totalmente antinatural. Colocava o Homem acima de todas as outras coisas, e as relações económicas entre homens livres como seu dogma ideológico. Este projecto não é "sustentável". É um projecto de expansão eterna, de progresso tecnológico e de avanços nas metodologias de produção exponenciais. É um projecto que tem como objectivo a produção de uma utopia paradisíaca, um desligamento do homem com a natureza, a artificialização completa do mundo, a riqueza material e intelectual de todos os seres humanos. Este antinaturalismo expõe o carácter exploratório de tudo o que não tem "Direitos", nomeadamente todo o mundo natural à sua volta. O mundo é explorado e não recebe compensação material por isso, é o nosso "escravo".
É nesta luz que o Ambientalismo surge na década de 60, reciclando e reutilizando (hehe) conceitos nazis e comunistas anticapitalistas, com o argumento simples de que o projecto capitalista vai esgotar a natureza e expôr a civilização humana à deteriorização dos ecossistemas que a sustentam. Desde a questão da Bomba populacional, que iria matar a maior parte dos seres humanos à fome no ano 2000 (Erlich, "The Population Bomb"; Clube de Roma "Limits to Growth"), recursos naturais, que se iriam esgotar no início do séc XXI, sendo que já na década de 80 seriam cada vez mais caros (em 2000 eram todos mais baratos), a falta de água, colapso da agricultura, a extinção de metade das espécies vivas mundiais, e, agora em voga, o aquecimento global, o argumento central é sempre o mesmo e não parte de evidências empíricas, mas sim de uma mentalidade apocalíptica neo-malthusiana que parte da conclusão e vai à busca de evidências para as suas teses.
Todo o movimento ambientalista parte deste pressuposto de que a Terra (Gaia para os fâs mais religiosos) não vai tolerar mais esta exploração e violação dos seus próprios recursos e numa atitude revanchista vai mostrar a estes capitalistas "antinaturais" o erro dos seus modos e lançá-los outra vez à era das cavernas, se não ouvirmos a voz de Gaia, segundo o evangelho dos Ambientalistas :). O importante a reter no Ambientalismo é o conceito de Limite, que é a antítese do capitalismo, que pressupõe sempre a Expansão. Esta é a razão pela qual o Ambientalismo consegue reunir todos os marxistas nas suas causas, pois o inimigo comum é o projecto humanista-capitalista.
No entanto, este confronto é artificial. Por um lado, são as democracias capitalistas que têm o melhor ambiente e os níveis de poluição mais baixos, havendo uma melhoria ao longo das décadas de imensos critérios ecológicos documentados. Depois, em termos teóricos, os limites físicos discutidos pelos ambientalistas não são exactamente os mesmos que possam limitar a economia. Isto porque enquanto que os limites são naturais, a economia capitalista não é natural, é uma riqueza virtual que descreve relações económicas entre seres humanos e não necessariamente a utilização de recursos humanos. Esta separação entre a humanidade e a natureza é um conceito importante que é negado pelo ambientalismo em geral, que gosta de colocar muitas vezes equações genéricas como "Dinheiro = Energia", no debate dos limites energéticos (Peak Oil), "População = Terra Arável x Constante", no debate da sobrepopulação, escapando-lhes a noção de eficiências, alternativas, substituições, etc. No limite, pode-se perfeitamente imaginar uma sociedade humana vivendo totalmente de uma economia de materiais em carbono com o aproveitamento da energia solar ou de fusão. Neste cenário utópico, ultrapassámos os limites típicos pregados pelo ambientalismo em algumas dezenas de casas decimais.
Portanto o Ambientalismo que temos não aceita esta visão e adopta um carácter confrontacionista para com a ideologia do crescimento do projecto humano. Quando Bjorn Lomborg escreveu o seu livro "Ambientalista Céptico", onde o autor apresenta a boa nova de que se conseguiram feitos ambientalistas notáveis até ao ano 2000, e que nem todas as notícias são más, a nojeira que se seguiu, com uma perseguição das supostas camadas académicas ao homem sem precedentes e inenarrável (resultando no desprezo que o homem é hoje vítima). A ideia de que o progresso económico e tecnológico são realmente as melhores soluções ao problema ambientalista foi vista como uma heresia total. A tecnologia é vista não como uma solução mas sim como aquilo que nos levou a ter problemas.
Esta semana tivemos direito a testemunhar mais uma pequena variação desta obsessão em parar qualquer avanço tecnológico ou o próprio projecto humanista, quando a Nature publicou um estudo que indica que a exploração espacial privada, só por si, poderá aumentar a temperatura do planeta em 1ºC:
The findings, reported in a paper in press in Geophysical Research Letters1, suggest that emissions from 1,000 private rocket launches a year would persist high in the stratosphere, potentially altering global atmospheric circulation and distributions of ozone. The simulations show that the changes to Earth's climate could increase polar surface temperatures by 1 °C, and reduce polar sea ice by 5–15%.
"There are fundamental limits to how much material human beings can put into orbit without having a significant impact," says Martin Ross, an atmospheric scientist at the Aerospace Corporation in Los Angeles, California and an author of the study.
A linguagem Erlichiana está presente, intocada, ainda em 2010.