terça-feira, 27 de julho de 2010

Caridade

"O problema da caridade é que substitui a política"

Bernard Henry Levi, num debate com Zizek, aqui

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Livre Arbítrio 2

Como já vimos no post anterior, a própria noção de "Livre Arbítrio" parece ser fundamentalmente contraditória. Ela assume que cada "Ser" pensante, "Alma", etc., seja capaz de fazer decisões de um modo independente das partes que compõem este "Ser", chamemos-lhes o que quisermos, personalidade, juízo, razão, emoção, ou então qualquer jargão psicológico ou ainda neurológico. Isto, clarom faz pouco sentido. É praticamente auto-evidente que é uma combinação de estados de cada uma destas nossas características que determinam as nossas escolhas. A soma destas partes, que são relativamente fáceis de abstrair, compõem o todo que somos. Por sua vez, cada sub-entidade poderá ser repartida por outros conflitos e diálogos internos, processos que compõem essas sub-entidades. Na minha teoria favorita, materialista que é, imagino que será assim até se chegar aos bosões e fermiões.

Walt Whitmann disse uma vez:

Do I contradict myself? Very well, then I contradict myself, I am large, I contain multitudes.

Daniel Dennett, uma estrela ateísta (mas segundo soube, pouco tido em conta em círculos neuro-científicos) propõe uma hipótese, a de que o cérebro é composto por uma plêiade de entidades em conflito, e que num processo ligeiramente semelhante à selecção natural, existe sempre um grupo de ideias, de personalidades, de desejos ou atitudes que "ganham" a luta pelo controlo do ser. É uma ideia, e faz parte daquilo a que se chama de compatibilismo, ou seja, uma filosofia na qual a ideia de "Livre Arbítrio" (ou um resquício dela) é redefinida e requalificada de modo a se compatibilizar com o Determinismo. (É a ideia mais em voga na filosofia neste momento)

Freud propôs a divisão do ser em três, talvez buscando uma certa inspiração na trindade cristã. O id, que luta pelos desejos mais íntimos e primordiais, eu quero fazer isto, o superego, que luta por aquilo que pensa ser um valor superior, por aquilo que é moral, isto é o que deve ser feito, e o ego, que tenta sempre arranjar uma solução que agrade aos dois bullys que o rodeiam, isto é o que vou fazer.

Independentemente do modelo que assumamos, e existem-nos às bagatelas já que estas entidades, embora fáceis de apreender e catalogar não serão tão fáceis de organizar (ainda não temos um modelo do cérebro humano), o que importa aqui assumir é a existência de uma organização. Aquilo que escandaliza o "Senso Comum" é a possibilidade de não haver neste percurso reducionista de observarmos as escalas cada vez menores nenhuma alteração qualitativa daquilo que observamos. São processos com sub-processos com sub-sub-processos .... até chegarmos aos fermiões, com quarks, com supercordas, etc. Não há aqui nenhum passe de mágica, uma coisa "especial", a flutuar em mini-nuvens de doçura branca com um halo brilhante à volta em lado algum.

O problema da ausência do passe de mágica é duplo. Primeiro, as pessoas deixam de ser "responsáveis" pelos seus actos.... Isto já é uma doença adivinhável: "querida, desculpa ter-te traído, mas foram os meus genes que me obrigaram" é uma frase que poderia tornar-se ridiculamente comum, não fosse a patente humilhação a que o adúltero se veria forçado. Neste sentido, pode-se imaginar algum advogado mais criativo a tentar absolver o seu cliente com o argumento de que foi o cérebro dele que o fez fazer isto (não havia um sketch dos Monty Phyton que discutia precisamente isto?). Caos social total! Nada é responsável por nada, e todos aqueles que se desculpavam das suas asneiras com o sistema, ou a sociedade, agora têm um apoio inesperado na filosofia e na ciência.

O segundo é aquilo a que o John Searle chama a atenção, o facto de que, por mais que racionalmente pensemos que a versão determinista é a verdadeira, e não possuímos um "Livre Arbítrio" real, verdadeiro (seja lá o que isto quer dizer), o facto é que não conseguimos aceitar isto, é "contra-natura" e toda a nossa mente se rebela contra a ideia. Uma vez perguntaram a Searle, se, tendo um dia todas as evidências necessárias para demonstrar a falta de "Livre Arbítrio", se ele aceitaria o facto. Searle goza com a ironia ingénua da pergunta e eu concordo que tem piada. Vejamos o seguinte diálogo:

- Do you believe in fate, Neo?
- No.
- Why not?
- 'Cause I don't like the idea that I'm not in control of my life.
- I know exactly what you mean.

Quem não consegue simpatizar com esta negação? O problema é que isto não é nenhum argumento em si, mas apenas um apelo emotivo. Searle é alguém que ao tentar fugir do determinismo do universo, refugia-se no indeterminismo da Mecânica Quântica, e ele é o primeiro a envergonhar-se da referência, de tão absurda que é.

Como resolver então o problema? A que se refere o termo "Livre Arbítrio", ou a que pode ele se referir, como pensar a liberdade, etc.?

A minha sugestão é que o problema está mal equacionado, está mal enunciado e o raciocínio inerente é contraditório. Como exemplo temos o problema mais famoso de Zenão, o grego, o da tartaruga e o da lebre. Segundo a formulação de Zenão, a lebre nunca atingiria a tartaruga, e o raciocínio parecia bom, embora absurdo. Com a formulação mais correcta e rigorosa, percebemos que não era esse o caso, e que o paradoxo é apenas fruto de um raciocínio tosco. O que proponho é que aqui lidamos com um problema semelhante, ou seja, que a ideia de livre arbítrio parece fazer sentido, mas apenas até o formularmos com todo o rigor.

O problema psicológico descreve-se desta maneira: nós sentimos que a todo o momento temos várias possibilidades, uma planície de coisas que podemos fazer, basta escolhê-las ou não. Este sentimento é fulcral para as nossas próprias capacidades de escolha. O determinismo diz-nos que é precisamente o contrário que acontece: tudo aquilo que escolhemos é determinado por coisas que "não controlamos", e que apesar de pensarmos que poderíamos ter escolhido outro "caminho" no passado, isto é uma ilusão total, existe apenas uma linha única temporal (com todos os caveats que o gato de Schrodinger coloca.

Mas há aqui um erro. O erro está, a meu ver, na antropomorfização da própria matéria, como se ela tivesse o "poder" de fazer as coisas, e nós fôssemos apenas "marionetas" de um teatro cósmico. Isto não é verdade, já que a própria noção de "poder" é humano, e descreve coisas humanas, não cósmicas. O erro está também numa desagregação conceptual do ser humano nas suas composições, como se algo fosse apenas a soma das suas partes, e de repente não passamos "de um monte de átomos sem alma". Não é verdade.

Proponho a seguinte formulação que me parece mais correcta: Nós somos uma organização hiper-complexa de átomos, proteínas, ADN, células, etc. que, através da acção determinista das coisas que nos compõem, somos capazes de tomar escolhas, escolhas estas que fazem parte do universo determinista, ou seja, que existem de facto (embora sejam inevitáveis), e que elas ajudam a moldar e a construir o mundo que nós desejamos.

Será esta visão uma espécie de Calvinismo Secular? E se esta é de facto, a realidade, não é então tudo o que fazemos, ou decidimos fazer, irrelevante? Não é esta uma resposta que insatisfaz o "Neo" que está dentro de nós?

Talvez. E por isso é que a questão me fascina. Antes de acabar o post, quero no entanto reparar num aspecto curioso sobre este calvinismo secular. É que existe uma diferença peculiar entre controlar o nosso destino e acreditar que controlamos o nosso destino. É que a segunda, mesmo num universo determinista, tem implicações estrondosas na nossa vida. Ou seja, os seres humanos que acreditam nisto têm um impacte muito diferente daqueles que não acreditam nisto. E aqui neste pormenor reside um paradoxo curioso.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Livre Arbítrio

Free Will. Não há nada como o livre arbítrio na nossa religião de estimação. Muito ateu não acredita nesta parvoíce, como é óbvio, mas não existe aqui uma correlação perfeita. Há gente com muito boas intenções, empíricos de fio a pavio, mas quando se chega sempre à Grande Questão, ficam com dúvidas. Tudo é material, mesmo nós próprios e tal, e o cérebro é feito de papinha creme enrolada. Mas a Consciência, meus amigos, a Consciência, essa não pode ser apenas luzinhas eléctricas a andar de um lado para o outro, sem qualquer tipo de Livre Arbítrio.

É compreensível a apreensão. Quem gosta de saber que todas as suas acções são apenas o fruto de interacções reduzíveis a um jogo de bilhar de fermiões e bosões? Que tudo o que faz é inevitável? Que qualquer decisão que tomemos nunca é uma tomada realmente livre, porque a própria decisão foi fruto desse processo que não controlamos?

Alguns crentes com um certo sadismo xico-esperto, mas no bom sentido, apontam para o desconforto de Richard Dawkins sempre que o confrontam com essa questão. Dawkins pede às pessoas para se abrirem à evidência clara que o amigo imaginário não existe, mas quando lhe pedem para assumir que o livre arbítrio não existe, ele nega, finge que existe uma resposta qualquer, assume que a questão é "filosoficamente muito difícil", e não se quer preocupar com isso. A inconsistência é, no mínimo, engraçada. Já outros ateus não têm grandes problemas com isto, assumem a coisa como um facto bruto e continuam a sua vida normalmente.

A questão é, no entanto, inescapável. Acho que é um pouco excessivo exigir a toda a gente que pense nestas "consequências" filosóficas, e por isso acho que a insistência para que Dawkins o faça foi um pouco exagerada.

Mas façamo-lo agora. Pensemos um pouco sobre o assunto. A coisa é estranha, não é? Somos "prisioneiros" de átomos que nos compõem. Muito deprimente. É nesta altura que o crente, com um sorriso irónico de orelha para orelha olha para o coitado do ateu, obrigado a adoptar uma visão fatalista... duas vezes*. Claro que o crente, embebido da sua liberdade total, divina, especial, fica bastante agradado na sua posição, claramente superior.

Mas..... será mesmo assim tão superior? Pensemos um pouco sobre isto. O que quer dizer ter "Livre Arbítrio"? A liberdade de escolher, fazer as nossas próprias escolhas, significa que o nosso "Ser", se for possível esta abstracção, é independente do que o rodeia e consegue, perante um momento de decisão, fazer uma escolha "Livre".

Agora que expus a coisa deste modo, a coisa parece completamente ridícula. Por várias razões. Primeiro, que este "Ser", independentemente do modo como é "construído", espiritualmente ou "materialmente", é claramente complexo. Tem contradições, conflitos internos, falhas, memórias, etc., etc. Ele é, claramente, composto de todas estas coisas. Portanto, a questão materialista não resolve, bem vistas as coisas, o problema. O "Ser" que somos é sempre composto de qualquer coisa, e dizer que somos "prisioneiros" do que nos compõe, não é então uma notícia ultra-deprimente e desesperada, mas apenas um truísmo inalterável. Ou seja, é simplesmente chegar à conclusão de que não somos livres de não ser o que somos. Ser livre do que nos compõe é sempre uma inconsistência lógica.

Segundo, mesmo que isso fosse possível (ser livre do que nos compõe), nunca seríamos livres do que nos rodeia. Vejamos, nós, tudo o que fazemos é sempre em reacção ao que vivemos. Aquilo que sabemos depende necessariamente do que nos rodeia. Todas as nossas acções, os nossos pensamentos, são moldados por aquilo que nos rodeia. Este é um "fatalismo" exterior. Portanto, mesmo que fosse possível um estado de coisas impossível (ser livre do que nos compõe), estaríamos sempre condenados às escolhas que o exterior nos impõe.

Penso que o crente imagina qualquer coisa parecida com o último parágrafo. Uma espécie de "Matrix", um mundo altamente "controlado", mas que nos deixa fazer, subrepticiamente, uma série de (poucas) escolhas seguidas. E se as fizermos bem, seremos felizes, entramos no céu. É uma visão paranóica, mas compreende-se a motivação inerente.

Existem ainda outras questões a resolver. Primeiro, que tipo de filosofia é possível numa visão fatalista do universo, se a própria palavra "fatalismo" se aplica, e que outros paradoxos há a descobrir. Parece-me que todos estes problemas têm mais a ver com uma maneira errada de os pensar e considerar do que com algum problema com a "realidade" em si.

Mas isso fica para outro dia.



*Piada seca de lógica. O ateu fica por um lado logicamente obrigado a aceitar a conclusão, por outro fica obrigado porque o jogo de bilhar ininterrupto do universo assim o determinou.

domingo, 18 de julho de 2010

Slavoj Žižek



Personagem que me tem fascinado ultimamente. Dos poucos marxistas por quem tenho admiração, não tem papas na língua e não tem problemas em analisar as questões mais difíceis. Intenso e criativo, é um chorrilho de ideias a fluir diante de nós, propondo sempre uma maneira diferente de ver as questões. Comunista sem vergonha, mas reconhecendo no entanto a superioridade do mercado em lidar com a economia em geral, desdenhoso do chamado liberalismo com uma "face social" mas ao mesmo tempo extraordinariamente crítico aos excessos de poder de tipos como Chávez. Gosto sobretudo da maneira como ele recusa a morte da ideia do comunismo, que nasce a partir da ilusão Fukoyamista de que a História "acabou", e que hoje o que é importante é a gestão dos bens, e não a ideologia. Zizek mostra-nos que esta visão é completamente estúpida e cega, já que os avanços tecnológicos, sociais e políticos nunca foram tão grandes, e isto indica que temos novos problemas, novas questões a resolver.

É nesta senda que nos fala das questões da propriedade intelectual, dos problemas ecológicos e da bio-tecnologia, da internet e de imensas outras questões prementes ao século XXI, que nunca foram confrontados antes, e onde o mercado não parece ser a resposta mais "natural" aos problemas (ao contrário da propriedade material, onde a tendência natural da sociedade é organizar um mercado baseado na defesa da propriedade).

São ideias interessantes, e aquilo que gosto mais é a honestidade radical do pensamento, a criatividade das ideias, e uma noção de que a ideologia não é uma ideia estática de como devemos organizar uma economia, mas uma ideia de princípios que pode ou não funcionar em diferentes circunstâncias, ecologias ou sistemas.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Pensamentos Fragmentados sobre o Copyright - 1

O Ludwig Krippahl é provavelmente o autor mais interessante neste tema que eu encontrei até agora, não que tenha procurado muito. Não pelo brilhantismo dos seus argumentos, nem pela profundidade do seu pensamento, muito pelo contrário, por uma certa ingenuidade propositada e fundada em razões históricas (que ele muito bem assenta) e por uma simplicidade de lógica, que ainda não destilei se é simplicidade ou simplismo.

Seja como for, é bastante provocador, e as suas ideias resumem-se a uma pequena argumentação que penso poder sumarizar num parágrafo.

O Copyright é uma invenção humana, invenção cujo propósito inicial seria o de proteger a obra, e não propriamente o autor. Hoje, a protecção da obra é posta precisamente em causa pelo Copyright. Antigamente, era possível copiar cultura, alterar cultura, modificá-la, rearranjá-la (remix!), as ideias são feitas para se partilharem e desenvolverem. O Copyright impede tudo isto ao monopolizá-las aos seus autores ou às empresas detentoras do pequeno (C), sendo uma grande ameaça ao desenvolvimento de nova cultura. Ademais, tudo aquilo a que se chama de "cultura" é redutível a algoritmos binários, a equações matemáticas. Um Copyright de algo que tem esta natureza mina todo o resto da cultura (como um vírus) e é na sua essência inconsistente. Finalmente, o incentivo que temos hoje na cultura é um incentivo ao Pop, a cultura de pastilha elástica, e não propriamente à qualidade. Por tudo isto, declara-se que o Copyright deveria ser abolido totalmente.

Peço desculpa pelo tamanho do parágrafo. Àparte de algum pormenor que me tenha escapado, o argumento de Ludwig é essencialmente este. Em termos lógicos e construtivistas, parece um argumento não só razoável como motivador. Quase que dá para criar um partido (pirata?) à volta disto, visto que toda esta problemática do Copyright tem grandes influências sociais, culturais e económicas.

Parece-me uma daquelas posições completamente impossíveis de estabelecer por algumas razões, na realidade. A mais forte destas razões não se prende exactamente pela enorme deficiência de soluções propostas para o enorme vazio estrutural de inúmeras produções de média protegidas pelo copyright, a mais forte é obviamente que nenhum corpo político alguma vez terá força para destruir enormes indústrias de "entertainment" por uma visão ideológica e utópica. Ainda para mais numa época tão pragmática em que vivemos.

Fica-me então que estes são textos que nasceram póstumos, para a posteridade. Porventura, alguém do séc. XXII lerá os arquivos de uma companhia chamada Google e descobrirá que já no ano santo de 2008 uma pessoa chamada Ludwig Krippahl tinha os parafusos no sítio. Alternadamente, fazer-lhe-ão uma estátua... e farão comparações a Lenine...

Não. Parece-me mas é que existem enormes forças neste mundo, e são tão fragmentadas quanto as suas intenções. Essa fragmentação, o enorme ecletismo de interesses e poderes no que concerne este tema, irá tornar cada vez mais complexo e esquizofrénico o panorama legal e prático que dá cor a esta temática. Não havendo uma "revolução do proletariado internáutico", a confusão será cada vez maior, e a distância entre o que a lei diz e o que as pessoas realmente fazem será demasiado larga.

Por outro lado, temos exemplos contrários. Veja-se o caso particular do iPad/iPod. Neste caso, o ecossistema do iOS propõe um pequeno "totalitarismo" onde a pirataria é impossível (pressupondo que não se "jailbreaka" o aparelho). Curiosamente, eliminando totalmente a pirataria, a discrepância absurda entre o preço das aplicações e o preço que as pessoas estão dispostas a pagar nos mercados onde a pirataria é quase total desaparece. Neste mercado muito particular, normalmente, o preço destas aplicações é bastante baixo, pois todos os que usam as aplicações pagam-nas de facto.

O iPad pode mostrar um futuro curioso onde esta distância deixa de existir porque a versão "status quo" que a lei obriga é demonstrada numa versão suficientemente apelativa e indolor, garantindo igualmente que os criadores de aplicações têm a percentagem ideal de lucros.

Qual será o futuro que ganha? É uma batalha a seguir, e tenho ainda muita coisa para dizer / bocejar sobre o assunto... fica para a próxima.

domingo, 11 de julho de 2010

Dejá Vu (Parte 1 de muitas)

Lembro-me perfeitamente de uma viagem bem comprida pela segunda autoestrada Lisboa-Porto (a terceira ainda não existia), onde a Ema e eu falávamos de projectos, sonhos, arquitectónicos. Uma coisa para pensar devido a um concurso onde nunca entrámos. Um concurso de ideias.

Tivemos bastantes. Mas o grande benefício de uma longa viagem (e monótona), é que a nossa mente pode vaguear e vaguear e vaguear.... etc. Surgiu-me uma ideia que ainda não tinha visto em lado algum, e como ideia, pareceu-me bem arrojada.

A ideia era, mais ou menos, esta:



Pronto. Para variar, roubaram-me as melhores ideias.

Nota

O mundial acabou e o Van Bommel não foi campeão.

Uma história feliz portanto.

Propósito

Criei outro blogue. Enfim, até parece que não tenho mais que fazer! A verdade é que o meu outro blog, o monstro das pipocas, não é a minha casa, totalmente. E às vezes quero encher a coisa de escrita. Dizer da minha justiça aquilo que eu acho que está errado no ponto de vista das outras pessoas. É uma pequena obsessão minha: acho que muita gente está simplesmente errada, e não só isso, está a pensar de modo errado. Não que não sejam inteligentes e não estejam certos sobre tantas outras coisas, muito mais do que eu. Nada disso. Mas de vez em quando erram.

Nota. Isto não é soberba da minha parte, apenas provocação. Obviamente que não penso ter a verdade absoluta a meu lado, e é até sobre essa matéria que gostaria de encher algumas linhas sobre isto. É sobretudo uma certa raiva que se me apodera por, nalguns temas tão, supostamente, importantes, haver uma certa dislexia do pensar, que porventura é facilitada por um certo laxismo da soberba de quem pensa advogar uma verdade inegável e indubitável. Pois talvez sejam verdades assim, mas isto não é desculpa para deixarmos de ser rigorosos no pensamento.

Tenho essa paixão pelo rigor do pensamento. Coisa que me levou a levar a sério a proposição religiosa a certo ponto da minha vida, por exemplo. É uma paixão que me leva a descobrir novas coisas e novos pensamentos. Mas não deixa de ser um hobby, pelo menos nesta fase da minha vida. É uma brincadeira, um jogo. E eu adordo jogos. Por outro lado, não tenho grande paciència para levar a coisa demasiado longe. Tenho uma certa obsessão em não ficar obcecado por coisa nenhuma.

No fundo, será um blog que pouca leitura alheia terá. Porventura será apenas um lugar para eu mais tarde rever (o quanto mudei entretanto), por outro lado um lugar para eu acertar e colocar no papel (virtual) as ideias soltas que aparecem no meu cérebro em reacção a coisas soltas que visiono na internet.

Sobre os assuntos, há vários. Interessa-me o futuro. Desde que soube que iria ser pai que este tem sido um tema no qual me tenho obcecado. Lembro-me perfeitamente do pânico do peak oil (em 2006-2007), das primeiras previsões da derrocada da economia (ainda em 2007), de questões mais metafísicas e filosóficas, da tecnologia, do aquecimento global e do fenómeno da computação/internet.

Todo o meu percurso cerebral nestes temas seguiu uma linha quase lógica. Entre o pânico de 2006 e uma certa esperança que foi surgindo ao me acercar do modo como este pânico é criado e fomentado, ou seja, apercebendo-me como é possível enganar-mo-nos tão facilmente em previsões sobre o futuro em determinados campos mais.... não lineares, comecei por ganhar uma maior esperança sobre o futuro, por um lado, e um grande cepticismo por alguma ciência e história, por outro lado.